terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Maricota precisava ir


Quando a gente decide juntar nossas coisinhas e sair de casa pra cair no mundo é fácil encontrar mil razões pra ir. E outras dez mil pra ficar, claro.

A Maricota quis ir pra melhorar o inglês dela e achar um emprego melhor quando voltasse. Ou pelo menos foi o que ela disse pra família e pro namorado pra não ter que explicar que ela simplismente queria ir, precisava ir... Porque ela queria ir e ver o mundo. Ela queria se ver no mundo. Ela precisava descobrir quem era ela, sem o mundo dela.

Maricota sabia que estar sozinha em um lugar novo seria um desafio mas imaginava que também seria libertador. Ela poderia ser quem ela quisesse. Quem ela tinha sido ou o que ela tinha feito até então não importava mais, porque ninguém precisava saber de nada se ela não quisesse.

Arrumou as malas e guardou tudo que sobrou no canto do guarda roupa. Se questionou se veria aquelas coisas de novo em dois meses, um ano ou uma década. Escreveu uma carta pra mãe, fez despedidas com os amigos e chorou de saudade de tudo e todos antes mesmo de embarcar. Maricota sabia o quão sortuda era por tudo que tinha. O que fazia tudo ser ainda mais assustador. E se quando voltasse seu tudo tivesse se tornado nada? E se tivesse abandonado tudo por nada?
Mas continuava sem saber explicar porque esse tudo ainda não era suficiente. Então ela foi.

Ela chegou e descobriu como era se sentir maravilhada e aterrorizada ao mesmo tempo. Maricota se sentiu completa absorvendo toda a beleza da Catedral de Notre Dame e ficou totalmente deslumbrada pelas luzes da Times Square. Conheceu gente da Alemanha, da Espanha, da Itália, da China e da Austrália. O mundo era de fato incrível e as possibilidades infinitas.
Ela tentava não pensar nos perrengues do dia-a-dia e em como era difícil lidar com eles sozinha. Ela aprendeu a apreciar o silência e a gostar da própria compania.
Mas o Natal chegou e as passagens eram muito caras. O aniversário da irmã passou e ela cantou parabéns pelo Skype. Viu no instagram que um amigo casou.
Ela não estava lá. Porque estava aqui e ali. E enquanto contemplava toda a magnitude do Coliseu Maricota sentiu seu coração se quebrando em mil pedacinhos.

Maricota não conseguia entender como era possível se sentir assim, tão confusa. Parte dela era tão curiosa e aventureira. Ávida pelo próximo desafio. Amava viajar e explorar o mundo. Queria conhecer pessoas de diferentes culturas e experienciar tudo. Sentia que nunca teria tempo suficiente pra ver e viver tudo que precisava!
A outra parte estava cansada de se apresentar constantemente. Ela só queria alguém que a conhecesse na sua totalidade e pra quem ela pudesse dizer "lembra quando...?". Essa parte queria almoçar com a família no domingo e ouvir as histórias da vó de quem ela tinha tanta saudade. Queria não ter que se preocupar e planejar tanto pra se sentir segura.
Essa parte ansiava voltar pra casa. Mas onde era sua casa agora? Ela já não sabia se seu tudo ainda esperava por ela. E se tudo tivesse mudado? Ela tinha mudado.

A idéia de voltar era tão assustadora quanto ficar. Por um segundo Maricota desejou nunca ter saído de casa. Mas só por um segundo.
Aos poucos ela foi entendendo que quando ela escolheu ir, ela escolheu um caminho sem volta. Parte dela sempre terá saudade. Saudade do que é familiar, seguro e acolhedor. Ou saudade das aventuras que ela ainda não viveu e das pessoas que ela ainda não conheceu. 
Maricota era uma dessas pessoas que precisa ir. E vir. Se ela não fosse, nunca seria feliz por ficar. 

Mais uma vez Maricota arrumou as malas. E então ela foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário