terça-feira, 3 de novembro de 2015

Spoiled.

A maioria das pessoas não percebe o quão mimada é até sair de casa. 

Eu me incluo entre elas.



Eu já tinha morado fora por 2 meses antes de vir pra Londres, fui pra NY estudar.

Sortuda como sou, tive que resolver muito perrengue sozinha nesse período, inclusive andar 10 blocks mancando pra ir no médico porque cai e quebrei o dedinho do pé e me virar em meio a uma situação meio pós apocalíptica, que foi sobreviver após a passagem do furacão Sandy!


Sei que pós apocalíptica pode soar dramático demais, mas ficar sem energia por uma semana foi complicado! Tenha em mente que isso quer dizer sem aquecimento em temperaturas negativas, consequentemente sem banho e passando muito frio!
Sem geladeira, consequentemente só comida enlatada e doada pela igreja!
Sem sinal de celular, tinha que andar meia hora pra chegar no orelhão mais próximo e esperar mais uma na fila pra avisar a família que estava "ok" e saber o que os jornais falavam sobre a situação, quando as coisas voltariam ao normal.
Não tínhamos como saber das coisas! O radio a pilhas começou a conseguir sinal 3 dias depois que tudo aconteceu.

Apesar de tudo isso eu me considero muito sortuda! haha


Uma semana depois da passagem do Sandy e de eu achar que ia encerrar minha viagem da pior maneira possível, minha sorte mudou de novo!

Um grande problema após a passagem do furacão foi que as linhas de metro e ônibus não estavam indo além da 30th street, se não me engano, e eu estava na 5th street... mas não dava mais pra continuar lá sem saber o que estava acontecendo!
Eu peguei minha mochila e andei, andei muito, até achar um ônibus que me levasse pra escola pra que eu pudesse acessar a internet e entender melhor a situação.
A escola estava "fechada", as aulas tinham sido canceladas, mas eu expliquei minha situação e me deixaram entrar pra usar o computador e carregar o celular.
Por coincidência (ou pelo destino se você acredita nisso...) lá eu conheci um francês que não sabia que as aulas tinham sido canceladas e estava lá, sem saber o que fazer... fomos tomar um café.
2 horas depois e muita conversa sobre os últimos dias ele me disse que tinha um quarto sobrando no apartamento que ele tinha alugado no Upper West Side e perguntou se eu queria ir pra lá! Sim ou claro? 


Foram os melhores dias da viagem! Fiquei hospedada a duas quadras do central park, em um bairro incrível e fiz um grande amigo!


E a parte ruim da história?
Não vou dizer que foi incrível ficar incomunicável, comer miojo cru e andar pelo parque que eu adorava vendo as árvores caídas.
Mas sim, me fez ver as coisas de uma outra perspectiva e perceber que por mais que a gente planeje e idealize a vida, não temos o mínimo controle sobre ela.

Aqui em Londres minha experiência tem sido um pouco diferente.
Até então nenhuma catástrofe meteorológica, graças a Deus!
( Mas estão dizendo que esse vai ser o natal mais frio de não sei quantos anos, então vou estocar comida e lenha, porque né, vai que... haha)


Mas algumas situações cotidianas me fazem ver o quanto eu era mimada no Brasil!

Meu pai sempre me deu carona até o metrô e cuidou dos problemas de banco pra mim, beijo pai!
Eu não lembrava ,ou nem sabia, o quanto é irritante esperar o ônibus atrasado ou ter que voltar andando do metrô em uma noite chuvosa quando tudo que você mais quer é só chegar em casa e dormir!


Nem imaginava o quanto um banco pode te tirar do sério! Estou tentando abrir minha conta há 1 mês e meio e cada hora eles inventam um novo empecilho, devo ter ido na agência umas 6 vezes e cada vez ouço uma história nova. E sem a carta do banco eu não consigo me cadastra no NHS (sistema de saúde público daqui) e tenho que continuar pagando o seguro!!


Quão terrível é acordar domingo de manhã querendo ficar de pijama o dia inteiro, mas o leite que tem na geladeira tá coalhado e a última fatia de pão tá mofada? Mãaaaae... ops, não... Vai se trocar e comprar ou vai sentar e chorar?


Acordar gripada e não ter remédio de gripe. Vou ligar pra... quem mesmo? Não tem ninguém íntimo o suficiente pra você pedir esse tipo de favor.


Ficar com vontade de comer um bolo de mel e ai não tem vó nem madrinha querida pra te fazer esse agrado. Se quiser vai comprar os ingredientes, faz e limpa tudo. Ou compra um muffin no mercado e fica de boa.


Ter um dia daqueles e querer ficar com cara de... enfezada, até alguém, leia-se mãe, perguntar o que aconteceu (mimada ao extremo, eu sei...). Mas você lembra que não está na sua casa e que mora com os seus chefes, que fazem de tudo pra te agradar e não param de perguntar se você está feliz.
Então ou você sorri e finge que tudo está lindo ou vai pro seu quarto e assiste uma série engraçadinha comendo um chocolatinho(ou 10...) pra superar.


Sinceramente, alguns momentos dão vontade de sentar e chorar, outros dão vontade de me superar e me virar sozinha, outros dão saudade e me fazem valorizar quem ficou longe e me faz falta. 
Viver em outro país é assim. É abrir mão de tudo que você conhece e que te conforta, pra descobrir seus limites, superar seus defeitos e valorizar suas qualidades. (Muita gente gosta de dizer que mudar de país é como sair da casa dos pais. Eu discordo, pode até ser parecido, mas estando na mesma cidade/estado/país é muito mais fácil pedir socorro e colo, né? haha)
Se me perguntarem se vale a pena vou dizer que esse processo não é fácil, mas vale muito a pena e que se redescobrir assim é incrível.

Minha vida aqui não é perfeita e minha vida no Brasil nunca foi perfeita, mas que vida é? E onde?
Muitas vezes eu ia pro meu quarto ver uma série pra esquecer das chateações assim como faço aqui!
Sempre tive muito claro antes de vir que a vida aqui não seria ideal, teria pontos que me agradariam mais e outros menos.
Mas uma vida sem problemas não existe, aqui ou ai.
O que existe, as vezes, é a opção de escolher os problemas que te incomodam menos e tentar aprender a lidar com eles da melhor maneira possível.

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