segunda-feira, 23 de novembro de 2015

No hugs, dear.



"Estrangeiro não é que nem brasileiro, são distantes, são frios. Você vai perceber e sofrer quando chegar lá."

Me disseram muitos.
E de fato, os ingleses que eu conheci não são iguais aos brasileiros que eu conheci.

Quando se apresentam são muito educados e sorridentes, mas não tem beijo e abraço. É oi de longe, no máximo um aperto de mão. A única adulta que me abraçou aqui foi minha host mom, da primeira vez que a gente se viu, no aeroporto. As crianças são mais carinhosas. Mas no geral eles não são muito de ficar "encostando".

Durante as conversas as mãos ficam quietinhas, não gesticulam e não ficam tocando na outra pessoa, Pra ser sincera isso muito me alegra, fico bem incomodada com gente que fica encostando em mim o tempo inteiro e eu mal conheço. Acho que até podia passar por inglesa se não fosse pelo meu sangue italiano que não me deixa falar sem usar as mãos.

Não acho que essas pessoas sejam menos humanas por agirem assim. No geral, a cultura deles é assim, um pouco mais contida. São mais práticos e menos emocionais. As vezes isso é bom, as vezes não. Pode ser que muitos ingleses sejam secos e mal educados, pode ser que muitos sejam super a favor de abraçar e beijar. Extremos existem aqui, no Brasil e em qualquer lugar.

Mas eu só falo do que conheci. E eu não conheci todos os ingleses, nem todos os brasileiros.

Conheci alguns de cada, uma parcela ridiculamente pequena pra fazer qualquer constatação universal. Apenas o suficiente pra fazer a minha constatação.
Duvido de tudo que é muito generalizado. Sinceramente, acho muito cômodo ficar sentada julgando e especulando sobre o que não conheço e não vivi. Reproduzir histórias que ouvi por ai sem saber se são reais sempre me pareceu errado.

Não me entenda mal, gosto de ouvir as histórias! Amo que as pessoas compartilhem suas experências comigo, no fundo sempre gostei mais de ouvir do que de falar. Mas não consigo tomar uma versão como a única. Preciso ler, ouvir, ver, experimentar e ponderar. Ai chego na minha opinião sobre tal coisa (que pode mudar a qualquer momento).

Cada pessoa tem uma perspectiva e uma experiência única! Mesmo pessoas que viajam juntas e visitam exatamente os mesmo lugares.
Cada indivíduo vai escolher olhar pra um lado. Um detalhe vai encantar um e passar batido pelo outro. Uma chuva vai arruinar o roteiro daquele que ama andar em um dia ensolarado, mas vai parecer uma oportunidade perfeita pra quem queria passar mais tempo dentro daquele museu incrível. Alguém acordou com dor de cabeça e achou a paisagem mais inspiradora um porre. O humor e as emoções do narrador pesam muito.

E quando você decide pedir informação pra alguém na rua aqui, a probabilidade de você pedir informação pra alguém super simpático e prestativo é a mesma de topar com alguém que não quer perder tempo dando direções pro turista que vem pra cá ficar parado do lado esquerdo da escada rolante do metrô no horário de pico (isso é provavelmente uma das piores coisas que você pode fazer quando vier pra Londres, não faça). Essa pessoa também pode ter acordado com dor de cabeça e estar atrasada...

O ser humano é o mesmo, aqui e aí.
E não é.
Não é por ser dai que é o mesmo.
Não é por ser daqui que não é.
Não é, porque cada ser humano é um indivíduo.

Claro que muitos de nós compartilhamos características em comum. De fato, nacionalidade pode ser uma das mais influentes delas. Grande parte de quem somos é proveniente da nossa cultura, do meio em que crescemos, os exemplos que vemos diariamente seja na escola, na família, na rua ou na televisão. Muitos valores acabam sendo colocados na nossa mente sem que a gente sequer perceba.
Mas com o passar do tempo a gente começa a ser mais crítico (ou pelo menos deveria ser),
e desenvolver nossos próprios valores de acordo com a nossa consciência e experiência de vida.

Duvido que uma família inteira consiga concordar se são a favor da pena de morte ou não. Se aborto deve ser legalizado ou não. Homossexuais devem ter os mesmos direitos que os héteros?
Muitas vezes eu não consigo chegar a um acordo sobre esses assuntos com os meus amigos que tem a mesma idade que eu e cresceram no mesmo bairro. Por outro lado já tive a sensação de que a pessoa estava lendo a minha mente enquanto conversava com alguém que nasceu do outro lado do mundo.
Barreira cultural é algo muito relativo. É algo que vai variar muito dependendo da individualidade e flexibilidade. Da sua e do outro.

Mudar de país é uma experiência que te faz questionar algumas atitudes que parecem tão banais, só porque todo mundo faz. E te faz reafirmar outras que pareciam não ter muito sentido, porque todo mundo achava estranho. Sua consciência e livre arbítrio se fazem muito presentes.

Não dá pra julgar uma nação inteira pelos estereótipos que os contadores de história criaram.
Eu odeio quando as pessoas me perguntam se eu já vi uma anaconda e se eu moro na rainforest (sim, isso já aconteceu mais de uma vez).
Eu sou brasileira mas não sei sambar e odeio calor (meu bronzeado é "cor de pera", como uma amiga disse). Tenho certeza que tem por aí um inglês que odeia chá e adora abraçar.


3 comentários:

  1. Adorei seu post. Concordo q não devemos criar esteriotipos. As pessoas são como são independentemente da nacionalidade.

    ResponderExcluir
  2. Adorei seu post. Concordo q não devemos criar esteriotipos. As pessoas são como são independentemente da nacionalidade.

    ResponderExcluir
  3. Perfeito, melhor post! Penso igual à você ^^

    ResponderExcluir