terça-feira, 20 de junho de 2017

É verão! Em Londres? É, em Londres!


Hi there!

Finalmente, depois de um loooongo inverno o sol decidiu aparecer, e apareceu com força total! Acreditem ou não, desde sábado a temperatura por aqui tem sido de 30 graus. Sim gente, existe verão em Londres! As vezes as estrelas se alinham e os céus cinzentos e a chuva dão lugar a um céu azul sem nuvens! haha

Eu não sei explicar porque, mas quando a temperatura fica em torno de 23 graus por aqui eu já começo a derreter e sinto vontade de usar vestido! No Brasil com 23 graus eu até pegava um casaquinho antes de sair... haha

Minha teoria (baseada no meu achometro) é: Como aqui as temperaturas costumam ser baixas durante a maior parte do ano o corpo acostuma com elas e qualquer variação pra cima é muito violenta! haha

Portanto, nesses últimos dias de sol escaldante em que a noite tem feito 25 graus eu estou sofrendo muito! Estava trabalhando em um market stall no sábado e fiquei acabada! Me senti com ensolação no final do dia!
Todas essas noites não tenho conseguido dormir! Meu quarto é no topo da casa e fica MEGA quente. E nunca paro de derreter... Eu já odiava o calor no Brasil. Agora que desacostumei odeio mais ainda :(



Só gosto de calor quando estou chilling na praia! Portanto meu plano é: Preciso ganhar na megasena logo pra poder só ficar curtindo o sol em alguma praia paradisíaca. #delusional hahaha

A previsão do tempo diz que quinta começa a cair a temperatura. Mas amanhã vai chegar a 32 graus! Como sobreviver gente?

Falando sério agora, esse calor é realmente preocupante aqui! Eles estão chamando de "killer hotwave". Porque essas temperaturas já são raras no auge do verão, em Junho então... As pessoas morrem de calor, literalmente! Os velhinhos principalmente.

As minhas kids tem chegado em casa passadas! O que está salvando é que quando chegamos em casa pegamos picolés e vamos pro garden brincar nos sprinklers. Único jeito de ser feliz nesse calor... haha

E é muito engraçado ver como os britânicos reagem e lidam com o calor. Outro dia eu estava em um restaurante e uma moça que estava sentada nas mesinhas do lado de fora simplismente tirou a blusa e ficou de sutiã... oi? hahaha Em parques isso é meio que "comum". Mas em restaurante foi a primeira vez que eu vi!
Essa foto do quadro de avisos do metrô de Londres está circulando no facebook hoje e eu achei engraçada demais! Eles tem sempre umas tiradas incríveis... hahaha

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Maricota e o ano que mudou tudo.



Já fazia mais de um ano que Maricota tinha abraçado sua família pela última vez, porque ela estava partindo para abraçar o mundo.

Já faziam tantos meses que a casa dela não era dela. Claro que as vezes parecia ser. Como "eles" dizem lar é onde o nosso coração está. Mas "eles" não entendem que as vezes nosso coração fica dividido em dois, ou três pedaços pelo mundo.

Quando alguém passa muito tempo sozinho andando por aí é fácil se apaixonar pelo caminho. Se apaixonar por cidades, pessoas, sabores, paisagens, um por do sol, e até por quem a gente é quando está ali. Tudo encanta. E tudo que encanta desperta na gente aquela vontade de não deixar ir, de ter sempre ao alcance. Freud explicou como o ser humano tem sempre esse impulso de tentar repetir tudo que trás prazer e evitar dor... Maricota queria guardar esses momentos perfeitos em uma caixinha e por no bolso. Ter tudo ali a sua disposição. Porque ela ainda não estava pronta pra desistir de todo o resto pra estar ali. E todos os outros pores do sol que ela ainda não tinha visto?

Maricota que sempre achou que não precisava de ninguém. Sempre foi muito orgulhosa por ser tão independente, mal sabia ela que sua definição de independência ainda precisaria ser esticada e torcida pra que ela pudesse realmente se considerar autosuficiente.

Conforme os meses foram passando ela foi entendendo que, de fato, ela não precisava de ninguém. Ela sobrevivia e até que vivia bem com ela mesma. Ela riu sozinha e chorou sozinha. Mas a vida irônica como ela só, mostrou pra Maricota que as vezes era melhor não estar sozinha. Era bom ter alguém pra compartilhar momentos que de tão intensos não cabem na gente e transbordam nos outros. Seja esse momento aquele riso que faz a bochecha doer ou aquele choro que borra todo o rímel.

Ela viu muitos dos seus conceitos se desfazerem, como castelos de areia, no vendaval multicultural em que ela caminhava diariamente. Há uns meses atrás, Maricota era tão certa de certas idéias... Hoje a única certeza que ela tinha era que, no fundo não existem idéias certas ou erradas, só pontos de vista diferentes e histórias diferentes. 
 Ela tentava incessantemente julgar menos e ser mais compreensiva.  Maricota aprendeu a concordar em discordar e a respeitar as opinões alheias. Mas também encontrou voz dentro de sí pra fazer com que a sua opinião fosse respeitada.

Ela não tinha ficado rica, sequer tinha encontrado um gringo lindo, rico e maravilhoso. Seu inglês não tinha ficado perfeito, ela tinha sotaque e confundia as preposições. Ela não tinha viajado tanto quanto ela gostaria ou quanto as pessoas imaginavam. Ela não podia comprar todas as roupas que queria ou visitar os melhores restaurantes todo final de semana. Não, a sua vida não era perfeita. E não, ela não era feliz todo dia. Ela ainda acordava de mal humor e batia o dedinho na quina dos móveis. Mas ela era sim, grata por tudo que tinha experienciado até então. Ela tinha tido a chance de vivenciar tantos momentos incríveis... E no fundo, era isso o que ela procurava, não era? Era esse tipo de riqueza que Maricota almejava.


Maricota achava engraçada a idéia de que todo mundo que muda de país tem que ter uma vida perfeita. Antes de ir ela sabia que quando a gente decide mergulhar no desconhecido tem que manter as expectativas sob controle. Ela estava sim indo atrás de condições melhores, de possibilidades novas. Mas a vida aqui, ali ou ai depende muito do que existe dentro de cada um de nós e de sorte/destino/Deus.

Ingenuidade imaginar que existe perfeição em qualquer lugar do mundo. Existem momentos perfeitos, não existe vida perfeita.


Mesmo assim, Maricota ainda achava que cada dia, mesmo cada um dos terríveis, tinha valido a pena. E como tinha. Ela sabia o quanto tinha crescido e se desenvolvido por que tinha tido necessidade de fazê-lo. Se ela tivesse pra onde correr provavelmente não teria enfrentado tantos dragões. Ela se sentia rica em experiências e sentia que tinha vivido mais nesse último ano do que em dez outros. E ainda sim ela sentia, cada vez mais, que tinha tanto a aprender...

Maricota estava sozinha.


Maricota estava sozinha. Sozinha no seu quarto. Sozinha no seu mundo. Sozinha com o silêncio.

O relacionamento de Maricota com o silêncio, assim como todos em sua vida, era bastante vacilante e intenso.
Ela sentia que no silêncio ela conseguia delicadamente moldar e amadurecer suas idéias, idéias brotam o tempo inteiro, mas não se desenvolvem sozinhas. Não floreiam sem cuidado, sabe?
Então ela se focava nessas idéias bonitas. Equanto cultivava essas idéias Maricota tentava abafar as outras meio tortas. Planejava viagens pra lugares que achava que só existiam nos seus sonhos, pensava onde estaria em alguns anos e imaginava uma vida feliz. Ela amava esse tempo tão seu. Ela amava esse silêncio.
Mas as vezes aquelas idéias meio esquisitas escapavam. Então ela odiava o silêncio porque ele a ensurdecia.
Quando essas idéias deturpadas vinham a tona tudo virava do avesso. Quando o mundo fora dela estava quieto o mundo dentro dela explodia. E se ninguém falava do lado de fora ela podia ouvir todas as vozes que gritavam do lado de dentro.

Maricota buscava então maneiras de abafar todo esse barulho. Mas tristemente nada parecia funcionar. Nada conseguia calar as vozes que ela não queria ouvir. Aquela voz que dizia que ela tinha cometido um erro atrás do outro. A voz que dizia que ela devia desistir de procurar seu lugar, parar de tentar achar a carreira certa, o país certo, os amigos certos, o namorado certo... a voz que dizia que ela devia desistir de buscar essa tal felicidade que parecia tão impossível de alcançar e aceitar o que viesse. Aquela história dos limões e limonada. Mas ela gostava mais de morangos...
E ainda tinha a outra voz que dizia que enquanto todos tinham construído uma vida, uma carreira e um grande circulo de amigos e seguido em frente ela ainda estava ali, sempre de volta a estaca zero e, sempre sozinha. Mas ela tinha estado sozinha em tantos lugares com tanta gente diferente...

Enquanto os outros seguiam sempre em frente construindo suas histórias ela se sentia vagando em círculos, tentando e desistindo, ela não conseguia continuar quando percebia que ainda não era aquilo que ela queria, não era bem aquilo que ela precisava.
Ela sabia que era, para a maioria das pessoas, tão mais fácil ignorar essas vozes, essas idéias tortas. Algumas pessoas tinham uma habilidade incrível de se moldar a uma vida pré moldada. Maricota tentou. Ela se expremeu o máximo que podia e tentou caber alí também. Mas ela não conseguiu, ela simplesmente não cabia nessa vida que disseram que era a certa.
Ah como Maricota invejava essas pessoas tão certas! Ela queria tanto ser assim como eles. "A vida deles é tão mais simples, tão mais fácil..." ela pensava. Será que ela devia tentar de novo? Se esforçar mais?
E então ela se questionava se só suas idéias que eram tortas ou se ela mesmo tinha acabado se entortando.

​E por ser assim tão "incabível" Maricota se viu de novo sozinha. Sozinha com seus problemas e seus dilemas.
Ela queria que alguém dissesse o quão tola ela tinha sido e que ela estava cometendo um grande erro naquela noite. Ou que alguém dissesse que, considerando sua condição humana, ela tinha feito tudo da melhor maneira possível.
Maricota queria uma opinião sincera. Ela não queria ser a única responsável por suas decisões. ​Não importava há quanto tempo ela estivesse sendo assim, era e sempre seria muito difícil ser tão autosuficiente.
Porque no fim do dia o que Maricota mais queria era alguém que dissesse que tudo estava bem. Ela estava tão cansada de ir dormir com essa incerteza. Ia mesmo ficar tudo bem? O que era o tudo bem afinal? Tantas idéias tortas...

Ela queria compartilhar seus anseios e queria dividir seus medos pra ver se eles diminuiam, mas ela não conseguia. Ela não queria ser fraca. Maricota sabia que essa idéia de ser fraca que colocaram na cabeça dela era incabível, mas era uma daquelas idéias tortas que ela não conseguia superar. Boba que ela só, não sabia pedir ajuda. Ela precisava que alguém se oferecesse pra ajudá-la. Porque ela fazia isso com os outros. Não era assim que deveria ser? A gente não deveria ser capaz de enxergar quem precisa de apoio e oferecer a mão ou o ombro? Maricota achava que sim. Então se ninguém perguntava nada ela não dizia nada. Ela se afastava e se fechava. E ficava cada vez mais sozinha com suas idéias. 


Maricota precisava ir


Quando a gente decide juntar nossas coisinhas e sair de casa pra cair no mundo é fácil encontrar mil razões pra ir. E outras dez mil pra ficar, claro.

A Maricota quis ir pra melhorar o inglês dela e achar um emprego melhor quando voltasse. Ou pelo menos foi o que ela disse pra família e pro namorado pra não ter que explicar que ela simplismente queria ir, precisava ir... Porque ela queria ir e ver o mundo. Ela queria se ver no mundo. Ela precisava descobrir quem era ela, sem o mundo dela.

Maricota sabia que estar sozinha em um lugar novo seria um desafio mas imaginava que também seria libertador. Ela poderia ser quem ela quisesse. Quem ela tinha sido ou o que ela tinha feito até então não importava mais, porque ninguém precisava saber de nada se ela não quisesse.

Arrumou as malas e guardou tudo que sobrou no canto do guarda roupa. Se questionou se veria aquelas coisas de novo em dois meses, um ano ou uma década. Escreveu uma carta pra mãe, fez despedidas com os amigos e chorou de saudade de tudo e todos antes mesmo de embarcar. Maricota sabia o quão sortuda era por tudo que tinha. O que fazia tudo ser ainda mais assustador. E se quando voltasse seu tudo tivesse se tornado nada? E se tivesse abandonado tudo por nada?
Mas continuava sem saber explicar porque esse tudo ainda não era suficiente. Então ela foi.

Ela chegou e descobriu como era se sentir maravilhada e aterrorizada ao mesmo tempo. Maricota se sentiu completa absorvendo toda a beleza da Catedral de Notre Dame e ficou totalmente deslumbrada pelas luzes da Times Square. Conheceu gente da Alemanha, da Espanha, da Itália, da China e da Austrália. O mundo era de fato incrível e as possibilidades infinitas.
Ela tentava não pensar nos perrengues do dia-a-dia e em como era difícil lidar com eles sozinha. Ela aprendeu a apreciar o silência e a gostar da própria compania.
Mas o Natal chegou e as passagens eram muito caras. O aniversário da irmã passou e ela cantou parabéns pelo Skype. Viu no instagram que um amigo casou.
Ela não estava lá. Porque estava aqui e ali. E enquanto contemplava toda a magnitude do Coliseu Maricota sentiu seu coração se quebrando em mil pedacinhos.

Maricota não conseguia entender como era possível se sentir assim, tão confusa. Parte dela era tão curiosa e aventureira. Ávida pelo próximo desafio. Amava viajar e explorar o mundo. Queria conhecer pessoas de diferentes culturas e experienciar tudo. Sentia que nunca teria tempo suficiente pra ver e viver tudo que precisava!
A outra parte estava cansada de se apresentar constantemente. Ela só queria alguém que a conhecesse na sua totalidade e pra quem ela pudesse dizer "lembra quando...?". Essa parte queria almoçar com a família no domingo e ouvir as histórias da vó de quem ela tinha tanta saudade. Queria não ter que se preocupar e planejar tanto pra se sentir segura.
Essa parte ansiava voltar pra casa. Mas onde era sua casa agora? Ela já não sabia se seu tudo ainda esperava por ela. E se tudo tivesse mudado? Ela tinha mudado.

A idéia de voltar era tão assustadora quanto ficar. Por um segundo Maricota desejou nunca ter saído de casa. Mas só por um segundo.
Aos poucos ela foi entendendo que quando ela escolheu ir, ela escolheu um caminho sem volta. Parte dela sempre terá saudade. Saudade do que é familiar, seguro e acolhedor. Ou saudade das aventuras que ela ainda não viveu e das pessoas que ela ainda não conheceu. 
Maricota era uma dessas pessoas que precisa ir. E vir. Se ela não fosse, nunca seria feliz por ficar. 

Mais uma vez Maricota arrumou as malas. E então ela foi.

Pérolas das kids

Hi there!

Todo mundo que passa bastante tempo com criança sabe como cada dia com essas elas é cheio de emoções diferentes. Falo pra todo mundo, incluindo as kids, que eles são Gremlins! A coisa mais fofa ever até aquele chocolate extra ou o primeiro não... ai eles viram os monstrinhos e salve-se quem puder! haha




Sendo au pair você provavelmente vai passar mais tempo com as suas kids do que os próprios pais passam. Ou seja, você vai vivenciar todos os momentos possíveis! TODOS!


Sei que parece terrível dizer isso, mas sim, você vai odiá-los! Pelo menos algumas vezes. Quando eles agirem de maneira ridiculamente mimada e fizerem birra por nada, quando eles falarem que a comida que você preparou com todo amor é disgusting, quando você estiver brigando com eles e eles corrigirem seu inglês, quando eles agem totalmente diferente porque sabem que os pais estão em casa... 





Mas você vai amá-los um milhão de vezes mais. Quando eles te abraçarem e disserem que te amam pela primeira vez você vai derreter, quando eles te pedirem pra fazer brigadeiro porque é o doce favorito deles, quando eles repetirem as palavras em português que você está ensinando com o sotaque mais fofo que você já ouviu, quando eles querem passar tempo com você nos finais de semana porque eles não entendem toda a coisa de on e off e te vêem como uma amiga our irmã mais velha.




Agora a maior certeza é que você vai rir MUITO! Crianças podem ser muito engraçadas, especialmente quando elas não estão tentando ser engraçadas e estão apenas sendo crianças.
Meu boy é uma das crianças mais divertidas e fofas que eu já conheci, ele é muito expontâneo e tem umas sacadas geniais! Achei que seria legal dividir com vocês algumas das pérolas que eu ouvi recentemente, a maioria é engraçada, mas algumas são fofas!




Outro dia estava eu lavando louça quando ele veio me falar todo sério que queria comer uma orelha de porco. É...

S: Bruna, você pode cozinhar uma orelha de porco pra mim?
Eu(Pega completamente desprevinida): Oi?? Uma orelha de porco?
S(Com a maior naturalidade): É, uma orelha de porco.
Eu: Porque você quer comer isso? É meio nojento...
S(Começando a ficar irritado): Sabe, pode ser que você não goste de orelha de porco, mas eu posso gostar!
Eu: Ok, você está certo, mas ainda sim eu não sei preparar isso... 
S(Perdendo a paciência): Ok, vou te explicar... Você pega um porco, corta a orelha dele, cozinha, frita um ovo e coloca em cima. 
Eu: De onde você tirou essa receita??
S: Do masterchef.
Eu: Tem certeza?
S: Sim!! Eu vi no masterchef!
Eu: Hmm, eu vou falar sobre isso com a sua mãe, por hoje só posso te prometer uma salsicha, pode ser?
S(Com a cara mais decepcionada da vida): Ok...

 O prato cobiçado pelo meu boy hahaha

Eu fiquei super curiosa e pesquisei se era verdade, gente, é verdade! Com o ovo e tudo. E ainda foi no Masterchef Junior!! Não me aguentava contando para os pais e nem eles se aguentavam... Até hoje quando eu lembro morro de rir...


Eu(Super gripada andando na chuva): To tão doente e agora essa chuva, acho que vou morrer...
S: Sabe, mesmo que você morra eu vou te amar pra sempre!





No final do ano passado eles pegaram piolho na escolha... Estavamos tratando com o gel e o pente, mas ainda não estava resolvido. Saímos pra comer pizza e ele veio me abraçar.
Eu(Tentando ser discreta): S, você não pode me abraçar, lembra?
S(Gritando): Ah é! Porque eu tenho piolho né??
(Todo mundo que tava sentando perto da gente ficou olhando com nojinho, eu não sabia onde enfiar a cara...)
Eu(sorrisinho mais amarelo do mundo): Nãoooo, nós já resolvemos esse problema S...




Essa não foi das minhas kids, foi de um amiguinho deles que veio aqui em casa pra um play date.
X: Você é do Brasil?
Eu(Toda simpática): Sim.
X: Então você fala espanhol?
Eu(Menos simpatica): Não, eu falo português.
X: Você mora na Floresta?
Eu(Pensando, tá tirando né?): Não, em São Paulo, é uma cidade enorme, maior que Londres.
X: No Brazil??
Eu: SIM!!
X: Mas tem anacondas lá?


Eu: Não que eu saiba... só se elas morarem no esgoto, mas eu nunca vi.
X: E tempestades de areia?
Eu: oi?? é uma cidade, não é floresta e não é deserto!! 
Procurei uma foto de SP no google e mostrei pra ele, ele não acreditou que aquilo era Brasil.
Só faltou ele perguntar do meu macaco de estimação...

No final do ano passado nós vimos (algo que parecia) uma estrela cadente, cada um fez um pedido.
Eu: O que vocês pediram?
S: Pedi pra você passar o natal com a gente.
Eu: Own! Eu queria, mas não posso, tenho que ficar aqui pra esperar minha prima e vocês vão pra casa da vó de vocês.
Ai ele fechou os olhos pra fazer outro pedido.
Eu: O que você pediu agora?
S: Pra você ficar até o ano que vem e ai passar o natal com a gente!




A pobreza que a gente vê no Brasil é um conceito muito irreal pra eles aqui. Não tem criança na rua aqui. Nenhuma! Então quando eu contei para as minhas kids e para os meus hosts sobre a nossa realidade as reações foram bem diversificadas. Meu host dad por exemplo ficou bem chocado.

HD: As crianças ficam na rua sozinhas? 
Eu: Sim, é muito triste...
HD: Meu Deus, isso é terrível, não consigo imaginar crianças da idade do S e da E só tentando sobreviver...

Ok, alguns dias passaram e meu boy veio me perguntar sobre as crianças de rua. Expliquei pra ele.

S: Essas crianças não tem casa?
Eu: Não, elas moram na rua.
S: porque os pais delas não compram uma casa?
Eu: Porque eles não tem dinheiro...
S: Eu vou pegar um pote e pedir moedas para as pessoas pra gente comprar uma casa pra essas crianças.

Fofo!! 

Ai perguntei como ele sabia sobre as crianças de rua.

S: Meu pai me contou..
Eu: Ah é? O que ele te falou?
S: Que eu sou muito mimado e que se continuar sendo mal educado ele vai me mandar pro Brasil e eu vou ter que me virar que nem as crianças de rua.



Pois é, as vezes os adultos também soltam algumas pérolas... haha

Eu(olhando minha meia sofrida): Poxa, tem um buraco na minha meia, acho que vou ter que jogar fora!
E: Sabe Bruna, nem tudo tem que ser perfeito...




Eu: É... acho que você está certa.
Com certeza tiveram MUITAS outras que eu não consigo lembrar, mas decidi que a partir de hoje eu vou começar a anotar as mais engraçadas! Ai volto e conto pra vocês! :) haha

Beijos!


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

The figs dilema.





Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história. Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. Um figo era um marido, um lar feliz e filhos, outro era uma poetisa famosa e consagrada, outro era uma professora brilhante, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e outros vários amantes com nomes exóticos e profissões excêntricas, outro ainda era uma campeã olímpica. E, acima de tais figos, havia muitos outros. Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés.― Sylvia Plath,  A redoma de vidro

Esse trecho é tão incrível, expressa tão bem a contradição da escolha.
Sempre difícil fazê-la, diria até que impossível as vezes, mas se não a fizermos será possível aceitar e viver com o que nos foi escolhido?
Convenhamos que decidir nunca é fácil. Durante a vida deve dar pra contar nos dedos (de uma mão) os momentos em que optar por um caminho ao invés do outro pareceu óbvio. As situações são pintadas em tons de cinza, tantos "e se...", inúmeras possibilidades ali na esquina esperando você ser corajoso o suficiente pra entrar naquele beco desconhecido que é decidir seguir por um caminho novo.


Acho que tudo isso deve fazer especial sentido para aqueles que, assim como eu, pensam demais.
Imagino que para as pessoas mais desencanadas, práticas e impulsivas as decisões devem ser mais fáceis. Inveja é um sentimento terrível, mas é o que eu sinto por essas pessoas que tem uma vida significantemente mais simples e leve.
Se você ama dormir mas sabe que a hora de ir pra cama não necessariamente quer dizer que isso vá acontecer, você sabe bem do que estou falando. Você deita e pensa "preciso dormir cedo" e ai... bem, ai f****. Você vai passar a noite inteira acordado pensando em tudo que você tem que fazer ou em tudo que esqueceu de fazer, vai ficar checando o celular a cada meia hora pra saber quantas horas você vai dormir se por um milagre isso acontecer em 15 minutos... o que na verdade só vai acontecer uma hora antes do horário que você tem que acordar.



Várias dessas horas são dedicadas a imaginar as possibilidades de cada uma das decisões que você tem que fazer, ou pior, das que já fez.

Se você não sofre desse mal não se iluda pensando que os "overthinkers" sofrem apenas com grandes decisões, na verdade, pra nós não existe decisão pequena.
Eu me sinto assim todos os dias da minha vida. Frequentemente mais que uma vez por dia.
É claro que decidir mudar de país ou mudar o rumo da carreira são decisões que vão exigir muito mais de nós! E como exigem...



Mas pensamos o tempo inteiro no efeito borboleta! Decidir entre passar rimel de manhã e acabar saindo 5 minutos depois do horário normal pode ser o que te separa (na nossa cabeça!) de:
A. Perder o trem, pegar o ônibus e conhecer o amor da sua vida.
B. Chegar uma hora atrasado no trabalho com dor de cabeça pelo stress.

Experimentar comidas novas e descobrir um novo sabor preferido é incrível! Mas investir seus preciosos pounds em uma gororoba koreana que te deixa enjoada pode ser muito frustrante.
Arriscar ou escolher a opção mais segura?



E ok, talvez isso não seja o suficiente pra perder o sono, mas o dilema entre o hamburguer, que não tem chance de erro mas também não vai tem nenhuma surpresa, e o mais novo item gourmet pode acabar com a paciência dos seus amigos.
Decidir sob pressão é a pior coisa do mundo pra quem não sabe escolher. Ou pra quem sabe escolher bem demais. Depende do ponto de vista.

A gente analisa, pensa, pondera, repensa, decide... e faz tudo de novo umas 3 vezes pra ter certeza.
Se você me perguntar porquê essa mania de querer controlar o mundo, vou dizer que talvez seja um medo intenso de errar, um perfeccionismo sem tamanho, uma grande dose de insegurança e a vontade de sentir aquele prazer sem tamanho quando conseguimos o resultado exato que queríamos.



É, a sensação de que por um momento conseguimos ter controle sobre o que acontece nas nossas vidas nos trás uma falsa segurança muito reconfortante.
Mas é claro que bem sabemos que essa sensação é ridiculamente irreal. Não é?

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

No hugs, dear.



"Estrangeiro não é que nem brasileiro, são distantes, são frios. Você vai perceber e sofrer quando chegar lá."

Me disseram muitos.
E de fato, os ingleses que eu conheci não são iguais aos brasileiros que eu conheci.

Quando se apresentam são muito educados e sorridentes, mas não tem beijo e abraço. É oi de longe, no máximo um aperto de mão. A única adulta que me abraçou aqui foi minha host mom, da primeira vez que a gente se viu, no aeroporto. As crianças são mais carinhosas. Mas no geral eles não são muito de ficar "encostando".

Durante as conversas as mãos ficam quietinhas, não gesticulam e não ficam tocando na outra pessoa, Pra ser sincera isso muito me alegra, fico bem incomodada com gente que fica encostando em mim o tempo inteiro e eu mal conheço. Acho que até podia passar por inglesa se não fosse pelo meu sangue italiano que não me deixa falar sem usar as mãos.

Não acho que essas pessoas sejam menos humanas por agirem assim. No geral, a cultura deles é assim, um pouco mais contida. São mais práticos e menos emocionais. As vezes isso é bom, as vezes não. Pode ser que muitos ingleses sejam secos e mal educados, pode ser que muitos sejam super a favor de abraçar e beijar. Extremos existem aqui, no Brasil e em qualquer lugar.

Mas eu só falo do que conheci. E eu não conheci todos os ingleses, nem todos os brasileiros.

Conheci alguns de cada, uma parcela ridiculamente pequena pra fazer qualquer constatação universal. Apenas o suficiente pra fazer a minha constatação.
Duvido de tudo que é muito generalizado. Sinceramente, acho muito cômodo ficar sentada julgando e especulando sobre o que não conheço e não vivi. Reproduzir histórias que ouvi por ai sem saber se são reais sempre me pareceu errado.

Não me entenda mal, gosto de ouvir as histórias! Amo que as pessoas compartilhem suas experências comigo, no fundo sempre gostei mais de ouvir do que de falar. Mas não consigo tomar uma versão como a única. Preciso ler, ouvir, ver, experimentar e ponderar. Ai chego na minha opinião sobre tal coisa (que pode mudar a qualquer momento).

Cada pessoa tem uma perspectiva e uma experiência única! Mesmo pessoas que viajam juntas e visitam exatamente os mesmo lugares.
Cada indivíduo vai escolher olhar pra um lado. Um detalhe vai encantar um e passar batido pelo outro. Uma chuva vai arruinar o roteiro daquele que ama andar em um dia ensolarado, mas vai parecer uma oportunidade perfeita pra quem queria passar mais tempo dentro daquele museu incrível. Alguém acordou com dor de cabeça e achou a paisagem mais inspiradora um porre. O humor e as emoções do narrador pesam muito.

E quando você decide pedir informação pra alguém na rua aqui, a probabilidade de você pedir informação pra alguém super simpático e prestativo é a mesma de topar com alguém que não quer perder tempo dando direções pro turista que vem pra cá ficar parado do lado esquerdo da escada rolante do metrô no horário de pico (isso é provavelmente uma das piores coisas que você pode fazer quando vier pra Londres, não faça). Essa pessoa também pode ter acordado com dor de cabeça e estar atrasada...

O ser humano é o mesmo, aqui e aí.
E não é.
Não é por ser dai que é o mesmo.
Não é por ser daqui que não é.
Não é, porque cada ser humano é um indivíduo.

Claro que muitos de nós compartilhamos características em comum. De fato, nacionalidade pode ser uma das mais influentes delas. Grande parte de quem somos é proveniente da nossa cultura, do meio em que crescemos, os exemplos que vemos diariamente seja na escola, na família, na rua ou na televisão. Muitos valores acabam sendo colocados na nossa mente sem que a gente sequer perceba.
Mas com o passar do tempo a gente começa a ser mais crítico (ou pelo menos deveria ser),
e desenvolver nossos próprios valores de acordo com a nossa consciência e experiência de vida.

Duvido que uma família inteira consiga concordar se são a favor da pena de morte ou não. Se aborto deve ser legalizado ou não. Homossexuais devem ter os mesmos direitos que os héteros?
Muitas vezes eu não consigo chegar a um acordo sobre esses assuntos com os meus amigos que tem a mesma idade que eu e cresceram no mesmo bairro. Por outro lado já tive a sensação de que a pessoa estava lendo a minha mente enquanto conversava com alguém que nasceu do outro lado do mundo.
Barreira cultural é algo muito relativo. É algo que vai variar muito dependendo da individualidade e flexibilidade. Da sua e do outro.

Mudar de país é uma experiência que te faz questionar algumas atitudes que parecem tão banais, só porque todo mundo faz. E te faz reafirmar outras que pareciam não ter muito sentido, porque todo mundo achava estranho. Sua consciência e livre arbítrio se fazem muito presentes.

Não dá pra julgar uma nação inteira pelos estereótipos que os contadores de história criaram.
Eu odeio quando as pessoas me perguntam se eu já vi uma anaconda e se eu moro na rainforest (sim, isso já aconteceu mais de uma vez).
Eu sou brasileira mas não sei sambar e odeio calor (meu bronzeado é "cor de pera", como uma amiga disse). Tenho certeza que tem por aí um inglês que odeia chá e adora abraçar.